23.5.09

Delírios de uma Noite sem Luar




Aprendiz de feiticeira, da revista que você comprou na banca de jornal. Trapaceira das partidas de buraco pós noitada, você gosta de um marlboro vermelho e detesta ser importunada quando dorme até as 4 da tarde. Mas no fundo eu sei que por trás dessa sua banca de dama da noite há outra mulher, uma mulher sensata, que sabe o que quer. Por trás dessa sua máscara de devaneio existe o que não existe agora quando eu a vejo.




Você gagueja quando lhe perguntam sobre assuntos profundos e disfarça com sua pose de mulher bem resolvida e segura, mas no fundo você é uma criança que ainda tem medo do escuro. Não me surpreenderia se eu soubesse que ainda dorme com as luzes acesas. Percorri quilômetros e mais quilômetros até chegar à sua frente, mas o que encontrei foram cabelos louros tingidos, pele bronzeada e uma tatuagem de estrelinhas em seu ziriguidum. Que você fez questão de exibir pra mim num quiosque de copa, num sábado a noite desses aí..




Com seu copinho de cerveja e sua pose de mulher fatal carioca, eu me perdi e nem sei onde fui parar naquele dia seguinte. Só sei que você me deixou nu sem saber para onde ir ou chegar. Na cama daquele quarto de hotel. E eu sequer soube o que fazer quando você não atendia as minhas ligações naqueles dias. Me senti perdido, traído e calado caminhei algumas noites pela orla sem destino até o sol dar as caras. E agora você me aparece nesse tom carinhoso dizendo estar com saudades, fala sério gata! Qual é a tua? Pensa que eu sou um cachorro que aceita apanhar e depois vem ao teu encontro? Talvez eu seja. Heheheh. Quem sabe? Qualquer dia? Só sei que você não é minha dona. Eu sou vira lata, sou dono da rua. Eu sou dono do meu caminho, do meu destino, da minha tristeza e alegria.




Mas você mexe comigo, com esse teu requebrar de quadris na casa de samba. Eu bebo o meu drinque e de longe te vejo sambar no meio da roda. Você diz que também não é minha, mas nessas horas eu queria que fosse. Pra te puxar pelo braço e dizer que mulher minha não é qualquer uma, e não se mete em gafieira e não rebola pra outro se não pro teu homem. E agora você olhou para mim e não sei o que faço. Sambando de mansinho de fininho e eu não sei o que faço. Esse teu jeito loira-morena, é o que me mata. Porque você é o que eu quero na hora errada. Você nunca faz o que eu quero, me bate, grita, maltrata. E depois acha graça, faz carinho nesse teu malandro quando eu choro no teu colo reclamando da vida. E eu sempre volto, caio na tua lábia de mulher da Lapa.




E agora eu to indo embora e você insiste que eu fique, hoje, amanhã, a semana toda, uma noite, um mês, uma vida talvez? Não sei o que faço, mas essa noite eu sou só seu não saio do teu quarto. Pode vir bombeiro, sobrinho, policia, o Lula, O Obamão... Mas ninguém hoje vai ser capaz de me tirar daqui do teu lado. Amanhã eu já não sei loira-morena. Amanhã é outro dia né?! Num faz essas perguntas não... Só sei do meu hoje e hoje eu quero você. E se você não quiser assim, faz parte...Não digo que deixo para depois porque depois pode ser tarde. Mas vamos falar menos e xamegar mais pequena. Porque a noite é longa e o prazer é imenso, mas dura pouco. E de manhã não existe mais nós. Só existe o Ricardo e a Cidinha. O advogado porta de cadeia e a manicure do salão do Romeu. Que casal lindo hein?!




Outro dia eu te vi passando na rua, com um carinha bonito, bem apessoado. Parece ser homem de família, de bem. Bem que você andava sumida... Nunca mais te vi no samba e ninguém lá da bandas do João sabia de você. Até seu telefone dava desligado e fiquei me perguntando o que se fez dessa mulher que nunca resistiu às ruas tortas de Santa Teresa e da Lapa. Não como esse peste aqui feito eu, que já foi certinho, moço de bem também, que veio de Maricá e conheceu por acaso as casas de bamba por causa do compadre Miguel, mas se eu permaneci, foi por morenas feito tu e ficava assustado e achava graça desse teu jeito moleca assanhado, me devorando com os olhos e rebolando pra mim. E depois na barca de manhã eu dormia feito criança, só pensando em ta lá de novo na outra sexta-feira e nas outras mais que viessem pela frente.




E o mais engraçado agora é ver como esse cara, que mais parece o marido daquela boneca gringa, a Barbie de tão arrumadinho anda ao teu lado, com a cara de homem mais feliz do mundo, com uma cara de babaca né?! Logo depois eu vi como ele te apresentava com todo orgulho, achei graça, logo você Cida, ser apresentada com todo orgulho, aquela que eu conheci vadia, mulher da roda de samba, se tornar moça direita? Tá certo, você é bonita que dói, mas péra lá, né? Será possível que existe salvação pra uma pecadora feito tu...Ah, impossível. Provavelmente você vai se casar com esse mané, ter um monte de filhos e ser feliz, como dizem por aí. Mas tenho certeza, pro samba você volta. Ô se volta! E lá estarei eu te esperando, Cida, Cidinha, minha loira-morena, de braços abertos. Para relembrar os velhos e bons tempos. Afinal quem é do samba não nega tua raça, quando a cuíca tocar de novo perto da tua casa, Cidinha, duvido que você vai resistir. Hahahahah. Garçom, por favor vê outra aí pra mim!


Deborah Caridade 22.03.09

5 comentários:

Roger_Nat disse...

Arrasou!!!

BirdBardo Blogger disse...

Ótimo texto e reflete uma realidade carioca. Em que se inspirou?! pOderia me dizer?!

William disse...

Seu futuro como cronista parece ser tão glorioso qnto o de suas poesias Dedeah bjs

Matheus Falabella disse...

Nossa...depois dessa...ME DÁ UM AUTOGRAFO??

Puro Linho disse...

Surfar na net nos traz essas coisas boas. Gostei da sua escrita. MOderna e realista, sem deixar de ter um traço de sentimelntalismo poético. Tipo do texto contemporÂneo agradável de se ler.
Sds cordiais,

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