19.2.09

Homem do mar


De volta a seu porto, o porto de onde partira e sempre retornara. Ali estava a visão de um pôr-do-sol. De um dia quente, corrido, num dia de quase verão ali estava a sua vida. Olhara a paisagem pouco modificada pelos anos. Ao longo do porto, os barcos, a última pesca do dia, as crianças que jogavam pelada, os gatos oferecidos e cães ali estirados a dormir e também os homens que junto com ele tinham sempre a mesma jornada: desbravar e viver de oceano.

De seus azuis esverdeados, por entre as marés e correntezas, mistérios que se escondem num horizonte tão vivo, por trás da linha entre o oceano e o mar. Mundos submersos, enigmáticos, feitos de radiantes cores, sinfonias eternas entre os cardumes e o brilho do sol, transformado em azul. Mundo o qual alimenta o teu, sentido nada faria, se não houvessem aquelas ondas a lhe esperar. Na verdade era o contrário, os azuis eram quase os mesmos com ou sem ele, mas ele não seria ele sem o mar. Vivia do fruto desses azuis, de barcos carregados ou mesmo quase vazios de pescados ao longo de dias, meses, anos, gerações...

Lobo do mar, aprendiz da natureza. O mais belo e gratificante era vislumbrar o sol a nos atingir com essa energia, vital e rara. A dar tons dourados na areia, nas amendoeiras do caminho que levava a orla da praia. As carpas a pular deixando seu rastro. E as poucas gaivotas que ali ainda estão a cobiçá-las. Enquanto as outras partem pelo céu em bando, como naqueles quadros árcades e impressionistas brasileiros. Sob a luz dourada do sol que parte, mas sempre retorna em sua eterna promessa.

O sol, a atingir a nossa pele, a dessas crianças que suam diante das melhores partidas de futebol das sua vidas. Onde não existem horas, compromissos, que as façam sair dali. aqueles momentos únicos onde a amizade e a alegria enquanto cansados eles se jogam e deitam-se olhando em direção ao céu por entre o velho caminho de madeira do porto, alguns com os joelhos dobrados e os pés na água, cada um em sua direção. E conversam coisas banais, enquanto vêem as estrelas e a escuridão do céu começarem a surgir. Ontem eram meus amigos e companheiros de profissão, hoje são nossos filhos que vivem daqueles dias. Claro, as crianças hoje mudaram muito, mas velhos hábitos permanecem.

Pegar as suas coisas e retornar para casa, e ver novamente a sua sereia. Rodopiá-la pela sala, olhar naqueles olhos e fazê-la sentir-se amada e única como todos os dias nos quais seguraram sua mãos e trocaram um beijo caminhando pela praia, justamente num pôr-do-sol como aquele. Ficaram o dia todo separados, mas mesmo distantes permanecem unidos em pensamentos e alma. Nada poderia ser mais importante. A sereia não troca o seu painho, nem seu painho jamais a trocaria por qualquer manjubinha.

Ver toda a natureza que nos cerca como nosso berço, alimento, o nosso lugar. É a melhor sensação que posso sentir. E se algum dia, numa conversa banal, numa roda de bar meus amigos, ou meus filhos me perguntarem – Onde estará o paraíso? Afirmarei com toda a certeza – O paraíso é aqui.

(Deborah Caridade 30.10.08)

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