4.11.09

O que o asfalto tem de lar?




Inocência Vendida



Vendi minha alma por uns trocados
Tinha fome, sede e frio.
As ruas eram desertas e inamigas

As luzes iluminavam os caminhos,
mas qual direção devo seguir,
quando não existe lugar para se chegar?

Me encosto numa marquise ainda não ocupada
e deslizo até o chão
Nada mais tenho além do meu corpo,
Essa casca vazia,
Outrora cheia de esperanças e vontades

Eu observo as luzes da cidade
E espero a noite passar,
deito num papelão e meus olhos
quase fechados miram
Os carros, os bêbados sem freios,
sob a música de um sabado a noite

Eu pensei que existisse um limite para a dor
Mas tenho descoberto cores desbotadas
A cada noite que não passa

Reflexos do que sou e não.
Uma piedade que não conheci
Um grito que foi silenciado
Mas que uma hora, ecoará.

E quantos de mim cá estão?
Esperando viver, sobrevivendo...
A esses dias e noites sem finais felizes.
Prometidos dia-a-dia, ano-a-ano...

Enquanto nós nos levantamos contra todos.
Sem nada a ganhar ou perder...
Na esperança de dias menos ruins.

.
.
.

Deborah Caridade.

30.10.09

batimentos...





...Esse coração


Meu coração gosta do impossível
E tem prazer em bater intensamente
Ele não tem noção do perigo
E se machuca tantas vezes
Quanto vive emoções únicas.

Ele não mede esforços nem distâncias
Nem diferencia longe ou perto
Ele se entrega tão fácil,
E se decepciona também

Ah como eu queria
Viver somente nas razões do coração
Que bate persistente e demais

Meu coração não teme multidões
Mas treme na base, diante de você
Ah como eu queria esquecer,
O que meu coração insiste em falar

E por ruas e ruas sigo
Sem pensar demais nem voltar atrás
Seguindo apenas o meu coração
Que nem sabe muito bem,
Onde essa estrada vai chegar

Ah como eu queria ser apenas coração
Para não sofrer como eu sofro
Sabendo que é loucura seguir numa estrada
Onde não se conhece o final

E talvez seja isso,
Vou ouvir agora só o meu coração
Que insiste a todo momento em dizer, gritar
Que sabe muito mais do que a razão.

.
.
.

(Deborah Caridade)

28.9.09

Liberdade


Liberdade

Tão doce e ávida,
Em sutileza percorreu os campos,
O sol batia sobre a grama verde,
Seus lábios beijaram o infinito,
Quando se deitou na gigante adormecida.

Rouca de tantos gritos,
surda ao se atirar
em mergulho num abismo.
Infinita, não temida,
limitada à sorte, entre a vida e a morte.

Para ir para o perigo da chuva,
E caminhar,
nas ruas aladas da madrugada.
Nos beijos noturnos e cegos,
Em noites não dormidas.

somente e tão, sutil, imperativa,
eterna e mortal...Simplesmente liberdade.
Aquela conhecida,
embora em vezes por retratos falados.

Essa desconhecida força movente
Que nos torna um pouco vento,
um pouco fogo,
Mais inércia e menos medo.
.
.
.
Deborah Caridade

9.9.09

Pietá


Pietá


Na obra mais bela, um sorriso guardado
A métrica correra, restara a emoção
De uma beleza pungente que diz tudo
Sem sílaba, apenas ato.

É um amor tremendo,
Vindo da vontade de ser...
Mais para o mundo, menos
a solidão mesquinha de um quarto...

Também é puro instinto,
Uma nascente que parte rumo ao oceano
Sabendo que jamais tornará a sua forma original
Mas tornar-se-á algo maior, incompreensível

Mistérios não buscam
explicação, apenas fascínio
É um tesouro que exibe-se aos olhos abertos
E esconde-se aos que dormem,
sob a forma de simplicidade,
Assim como um sorriso.
.
.
.
(Deborah Caridade)
Foto fundo de baú,
nem sei se é saudade...
É mais felicidade pelo momentos vividos.
:)

10.8.09

Sensações Noturnas








*Sensações noturnas



Nem o mais,
nem demais,
apenas um pedaço de apenas,
.
o silêncio e o vento,
entre noturnos e cavalgantes pensamentos.
dejavus insensatos de quem vive da vertigem,
.
de tudo que é ilusório,
e tudo mais que não vai além da sensação.
.
Quando pensamos nada pensamos,
a vida é uma doce ilusão.


.


.


.


Deborah Caridade
Imagem: Rhone River, do genial Van Gogh

1.8.09


"A vida é movimento, dê a ela o que ela pede de você.
Faça valer a pena."


É tudo que tenho a dizer nesse instante. Viva.
Até que se prove o contrário, só vivemos uma vez.
Os segundos são únicos, no tempo não existe a marcha ré.
Dê ao agora o mérito que você dá ao futuro.
Prove da sua força, descubra do que és capaz, ouse!
Não espere dos outros, simplesmente porque...
As outras pessoas também esperam demais de você.
Prefira agir a esperar a ação alheia.
Jamais permita que seus pensamentos lhe digam que algo "Não era para ser".
Renasça, reinvente-se sempre que for preciso, para alcançar seus objetivos
Dúvide da máscara da felicidade que os outros exibem em fotos
Fotos são fotos. Realidades são feitas de momentos.
Acredite no amanhã, sorria para ele.
Abrace, beije. Carpe Dien.
Ouça seu coração ao menos uma vez na vida.
Deboche do racionalidade humana, do que lhe asseguram que é totalmente certo.
Saiba rir de si mesmo, do que já foi.
O humor é o sal do dia-a-dia.
Evite o excesso, conheça o prazer de ter o essêncial
Jogue fora o inútil, para dar espaço às boas novas.
E principalmente, sobretudo creia.
Naquilo que te move, alimenta seu espírito.


(Deborah Caridade,
como tudo que está postado nesse blog narcisista)


Tentei dizer em poucas frases, coisas belas,
mas acabou saindo um texto! Incrível isso...
Já falei que adoro, amo postar para vocês?!
Pois então estão sabendo disso agora!


Não existe linguagem, conversa, sinal de fumaça sem que haja alguém do outro lado lendo, ouvindo, perdendo tempo conosco. E é uma viagem pensar nisso. Uma coisa leva a outra, logo estamos num grande dialogo silencioso. Enfim, Boa noite, bom dia, sei lá... Pra você que está lendo isso pode ser qualquer hora. Mas agora para mim é quase meia noite e amanhã tenho que acordar cedo. Pois é, C’est la vie...Nem tudo são rosas, mas os espinhos são o caminho para chegar até elas.


Um Abraço fraternal, Deborah Caridade.
Dia de Rua


Um verso, profano verbo
Lançado, atirado ao fogo
Como os livros de minha estante
Paixões vêm e partem, resta o amor

Amor que ama
Sem saber o que, ou porque
Mas segue em batimento
e quando lembro...

A noite vêm e nem avisa
Sua chegada, ela já é de casa
E o que há a se dizer
Quando já não há mais nada?

Que caiba num peito, que valha
E que não estejas envelhecido
São horas e instantes a passar
E seguir como o vento.
Passagens, malas na porta

Espere-me, não me esqueça
Certo dia hei de regressar
E beijar-lhe tua face, amigo
Mas agora meu rumo, jornada

Oferecem-se pelo caminho,
E já não sei dizer não
Ao que desejo...

A estrada que me leva,
Também me trará de volta.
Me espere.

.
.
.
Deborah Caridade

12.7.09


Abra os braços,
Sinta os ventos...
Da mesma forma que um furacão pode te arrasar em poucos segundos
Momentos assim são únicos e fortificam o espírito
Qualquer elixir pode tornar-se veneno, só depende da dose.
.
.
.
Deborah Caridade

22.6.09

Momento de Voar






Momento de voar




O momento é agora
Não olhe para trás
A vida se perpetua
Ao som de uma manhã

Conforme caminhamos
Vamos de encontro ao destino
E quando o encontramos
Toda ilogia parece ter sentido

Em palavras se descrevem
Manuais e guias
Mas só alcanço a perfeição
Quando acredito em mim

Tudo é silêncio agora
Deixe que a vida siga seu curso
Que os ventos nos levem
na direção correta

A noite se aproxima
E tudo faz sentido
Nas brumas se revelam o segredo
Que nego a enxergar

As estações mudam,
Os ponteiros giram numa parede fria
Toda certeza habita no incerto
No coeficiente de nós

Olhe para fora do vidro
A vida lhe espera
O mundo está ali
Ultrapasse a fronteira.

.
.
.
Deborah Caridade






6.6.09

O peso do Infinito




O Peso do Infinito


Nas ruas desertas
Era instável, inflamável, tóxico
Teus passos perseguiam minhas idéias
Posto que era vital compreender, falar, dizer...

Antes eram ações
Agora são palavras
Para eternizar, entender...

A vida, singela, mortal e etérea.
e o quão voraz é a suavidade dos ventos
E como a essência do amor e do ódio
vem do mesmo veneno.

Prove da tua força
Promova tudo que há em si
Mas não deixe que a glória
Lhe afogue ao ponto de nunca emergir

Fuja do vão, seja mais
nunca meio mais.
Tente descobrir o meu jogo
Desafio-te a encontrar minha procura

Talvez já morreu
Agora é só certeza
E o incerto é paralítico

Só vive quem sonha
E só sonha quem é capaz
de acreditar na vida
.
.
.
Deborah Caridade

31.5.09

Coringa

Homenagem à todos coringas, de todos os baralhos desse mundo...





Coringa


Ele não tem nome, nem hora
Não sabe ser só bom, nem ruim
Odeia horas e hipocrisia
Só sabe ser ele, odeia ser multidão

Talvez seja o contrário,
Mas o fato é: ele não sabe ser igual
Não obteve esse dom,
Que por vezes chega a ser sem graça.

Ser e seguir regras falidas
Sem cor, sem direção...
Detentor de minha admiração
Dos momentos em que penso nele.

Sua paixão vem de um grito,
Um abrir de olhos na madrugada
Em que todos sonham com um futuro
Que se sabe até qual é de tão igual

Mas ele sonha com o dia,
em que serás imperador
E ordenarás a liberdade
Na qual todos terão oportunidade
de seguir e pensar em novos rumos.

No fundo quem olha
para as cartas na mesa sabe:
uma hora ou outra ele estará lá
A virar o jogo e mostrar
Sua sorridente e misteriosa face.
.
.
.
Deborah Caridade

23.5.09

Delírios de uma Noite sem Luar




Aprendiz de feiticeira, da revista que você comprou na banca de jornal. Trapaceira das partidas de buraco pós noitada, você gosta de um marlboro vermelho e detesta ser importunada quando dorme até as 4 da tarde. Mas no fundo eu sei que por trás dessa sua banca de dama da noite há outra mulher, uma mulher sensata, que sabe o que quer. Por trás dessa sua máscara de devaneio existe o que não existe agora quando eu a vejo.




Você gagueja quando lhe perguntam sobre assuntos profundos e disfarça com sua pose de mulher bem resolvida e segura, mas no fundo você é uma criança que ainda tem medo do escuro. Não me surpreenderia se eu soubesse que ainda dorme com as luzes acesas. Percorri quilômetros e mais quilômetros até chegar à sua frente, mas o que encontrei foram cabelos louros tingidos, pele bronzeada e uma tatuagem de estrelinhas em seu ziriguidum. Que você fez questão de exibir pra mim num quiosque de copa, num sábado a noite desses aí..




Com seu copinho de cerveja e sua pose de mulher fatal carioca, eu me perdi e nem sei onde fui parar naquele dia seguinte. Só sei que você me deixou nu sem saber para onde ir ou chegar. Na cama daquele quarto de hotel. E eu sequer soube o que fazer quando você não atendia as minhas ligações naqueles dias. Me senti perdido, traído e calado caminhei algumas noites pela orla sem destino até o sol dar as caras. E agora você me aparece nesse tom carinhoso dizendo estar com saudades, fala sério gata! Qual é a tua? Pensa que eu sou um cachorro que aceita apanhar e depois vem ao teu encontro? Talvez eu seja. Heheheh. Quem sabe? Qualquer dia? Só sei que você não é minha dona. Eu sou vira lata, sou dono da rua. Eu sou dono do meu caminho, do meu destino, da minha tristeza e alegria.




Mas você mexe comigo, com esse teu requebrar de quadris na casa de samba. Eu bebo o meu drinque e de longe te vejo sambar no meio da roda. Você diz que também não é minha, mas nessas horas eu queria que fosse. Pra te puxar pelo braço e dizer que mulher minha não é qualquer uma, e não se mete em gafieira e não rebola pra outro se não pro teu homem. E agora você olhou para mim e não sei o que faço. Sambando de mansinho de fininho e eu não sei o que faço. Esse teu jeito loira-morena, é o que me mata. Porque você é o que eu quero na hora errada. Você nunca faz o que eu quero, me bate, grita, maltrata. E depois acha graça, faz carinho nesse teu malandro quando eu choro no teu colo reclamando da vida. E eu sempre volto, caio na tua lábia de mulher da Lapa.




E agora eu to indo embora e você insiste que eu fique, hoje, amanhã, a semana toda, uma noite, um mês, uma vida talvez? Não sei o que faço, mas essa noite eu sou só seu não saio do teu quarto. Pode vir bombeiro, sobrinho, policia, o Lula, O Obamão... Mas ninguém hoje vai ser capaz de me tirar daqui do teu lado. Amanhã eu já não sei loira-morena. Amanhã é outro dia né?! Num faz essas perguntas não... Só sei do meu hoje e hoje eu quero você. E se você não quiser assim, faz parte...Não digo que deixo para depois porque depois pode ser tarde. Mas vamos falar menos e xamegar mais pequena. Porque a noite é longa e o prazer é imenso, mas dura pouco. E de manhã não existe mais nós. Só existe o Ricardo e a Cidinha. O advogado porta de cadeia e a manicure do salão do Romeu. Que casal lindo hein?!




Outro dia eu te vi passando na rua, com um carinha bonito, bem apessoado. Parece ser homem de família, de bem. Bem que você andava sumida... Nunca mais te vi no samba e ninguém lá da bandas do João sabia de você. Até seu telefone dava desligado e fiquei me perguntando o que se fez dessa mulher que nunca resistiu às ruas tortas de Santa Teresa e da Lapa. Não como esse peste aqui feito eu, que já foi certinho, moço de bem também, que veio de Maricá e conheceu por acaso as casas de bamba por causa do compadre Miguel, mas se eu permaneci, foi por morenas feito tu e ficava assustado e achava graça desse teu jeito moleca assanhado, me devorando com os olhos e rebolando pra mim. E depois na barca de manhã eu dormia feito criança, só pensando em ta lá de novo na outra sexta-feira e nas outras mais que viessem pela frente.




E o mais engraçado agora é ver como esse cara, que mais parece o marido daquela boneca gringa, a Barbie de tão arrumadinho anda ao teu lado, com a cara de homem mais feliz do mundo, com uma cara de babaca né?! Logo depois eu vi como ele te apresentava com todo orgulho, achei graça, logo você Cida, ser apresentada com todo orgulho, aquela que eu conheci vadia, mulher da roda de samba, se tornar moça direita? Tá certo, você é bonita que dói, mas péra lá, né? Será possível que existe salvação pra uma pecadora feito tu...Ah, impossível. Provavelmente você vai se casar com esse mané, ter um monte de filhos e ser feliz, como dizem por aí. Mas tenho certeza, pro samba você volta. Ô se volta! E lá estarei eu te esperando, Cida, Cidinha, minha loira-morena, de braços abertos. Para relembrar os velhos e bons tempos. Afinal quem é do samba não nega tua raça, quando a cuíca tocar de novo perto da tua casa, Cidinha, duvido que você vai resistir. Hahahahah. Garçom, por favor vê outra aí pra mim!


Deborah Caridade 22.03.09

21.5.09

Thelxiepia






Afloram agora sentidos,
Antes ocupados por locais vazios.
De repente o dia
veio e acordou em pleno litoral.

Em fases inconstantes,
Como as marés vivia.
A sentir os ciclos do mundo
E também o seu.

E ali estava a beleza,
atirada entre a areia e o mar.
ela te olhava, te desejava
a sua sereia.

O sol, refletor, batia em seu rosto
o azul preenchia o fundo daquela cena.
E eles estavam a se olhar.

Os ventos traziam sensações, rumores
de outros litorais.
A razão fugira, restara
apenas a sensibilidade.

Deixara se levar pelo momento,
E aquele momento fora tudo,
Carregara-a nos braços e tentou
levá-la consigo, tirá-la do mar.

Mas as ondas pelas suas costas vieram,
e ele fora com ela, levado pela
bruta correnteza ao oceano

Nadaram juntos até o fundo do mar,
Os segundos silenciaram-se naqueles momentos
Onde dois eram um
sob a forma de oceano,

E quando pesava-lhe o corpo por entre o verde cristalino.
Aquelas sutis mãos o seguraram,
A doce miragem sorriu e o beijou
Partindo por entre as águas.

Mundos diferentes dentro da mesma esfera
Não havia ar ali para o seu corpo
Mas não haveria mundo sem ela...

Quando acordara, De volta á areia
Com seu corpo molhado, sua mente
esvaziara-se, lembrança alguma o agraciava.
Apenas um sentimento restara,
estranha sensação era aquela em seu peito...

Andando pela orla, as ondas em seus pés
Avistara uma concha solitária, entre a areia e o mar,
E como que acertado por uma onda,
Lembrou-se dela...
(Deborah Caridade)

17.5.09

Quase seu nome


Agora eu vejo
O que antes eu não via
Vesti uma fantasia de velhos trapos
E desafiei o mundo

Busquei na lua um verso
Tropecei no meio de um protesto
Foi preciso me perder para me encontrar

Já me conformei com certas coisas
Outras, faço questão de mudar,
E mais algumas, fazer acontecer

O dia é a certeza que vêm
em pleno litoral
As frases e fases de outrora
Se foram, mas de alguma forma ficam e ficam

Segure a minha mão,
É só o que peço agora...
Não sei muito bem do amanhã
Mas ele promete ser surreal

Não tenho muito dinheiro
Só o suficiente para ser feliz
Te abraço e o que eu mais quero
É ter paz.
.
.
.
Deborah Caridade

28.4.09

Deserto a noite.

.
.
.

O deserto a noite é só sentimento,
Dotado de mil mistérios e quase
Nenhuma explicação.



É lugar belo e quieto
Como nossa alma.
E infinito como os sonhos...


É um templo na terra
De tesouros que podem ser tocados
E outros que voam com o vento

De ventos,
Imponentes e suaves
Como o destino.
Incansáveis e refrescantes,
Como um manancial.
.
.
.
(Deborah Caridade)

13.4.09

As Canções do Silêncio


O amanhecer tem uma miragem, tem um brilho que cega mas ao mesmo tempo é o remédio para toda dor e todo medo. Sentada em minha varanda, escrevo agora sobre as canções que se calaram. Justamente aquelas canções que se perderam na imensidão. Que deslizaram de nossas mãos e foram de encontro ao infinito e jamais serão ouvidas novamente.

Do silêncio se fez a vida, e os momentos que jamais retornarão. Mas tenho a absoluta certeza de quando fecho os meus olhos e me concentro bem, posso ouvi-las novamente, em todos os seus acordes e ritmos. E de certa forma, sei que elas permanecem vivas por onde passaram. Por entre florestas, metrópoles e rios... A ecoar no horizonte, a transcender toda concepção de tempo, espaço, vida...

Nossas retinas capturam realidades, porém, existem realidades maiores que meus dedos, meus olhos... Nas quais jamais terei noção de suas formas, sua aparência. O mesmo posso supor do estranho e habitual todo que nos cerca. Somente tentar de olhos fechados, nessa frágil e infinita mente que possuo, criar mundos que só existam em mim...ou ainda sim, não só e exclusivamente.

Mas por agora, executo no silêncio uma canção, que navega num olhar. Uma pluma levada suavemente pelo vento...
(Deborah Caridade)

12.3.09

Uma manhã


Após aquele amanhecer,
ela não era mais a mesma.
Todas as estações e cores antes
estacionadas pelo conformismo
navegavam em sua mente,

era dor, amor, tristeza
e ao mesmo tempo equilíbrio.
Tudo lhe fazia sentido,
mesmo sem ter para onde ir.

Agora
era o momento mais preciso
para enlouquecer
e fazer do outrora,passado.

O passado estava em sua pele,tua carne,
mas em teu olhar morava o futuro,
e em teu andar
a capacidade de fazer o agora.

Nada mais era aquela menina,
nada mais,
nada além de uma mulher.
.
.
.
(Deborah Caridade)

7.3.09

Quando não sei



É uma confusão que perambula
que me faz ser quem sou e não
Aquela estranha reação ao outro.

Inserida num globo,
Como dados numa partida.
Uma aposta sem vencedor ou torcida

Uma risada bizarra,
sentimentos e sentidos trancados,
a contra mão de toda contradição
És sim e és não.
.
Poder de exibição,
armas sem munição.
Tudo que anda à contramão,
do que penso e faço.
.
.
.
Deborah Caridade

19.2.09

Homem do mar


De volta a seu porto, o porto de onde partira e sempre retornara. Ali estava a visão de um pôr-do-sol. De um dia quente, corrido, num dia de quase verão ali estava a sua vida. Olhara a paisagem pouco modificada pelos anos. Ao longo do porto, os barcos, a última pesca do dia, as crianças que jogavam pelada, os gatos oferecidos e cães ali estirados a dormir e também os homens que junto com ele tinham sempre a mesma jornada: desbravar e viver de oceano.

De seus azuis esverdeados, por entre as marés e correntezas, mistérios que se escondem num horizonte tão vivo, por trás da linha entre o oceano e o mar. Mundos submersos, enigmáticos, feitos de radiantes cores, sinfonias eternas entre os cardumes e o brilho do sol, transformado em azul. Mundo o qual alimenta o teu, sentido nada faria, se não houvessem aquelas ondas a lhe esperar. Na verdade era o contrário, os azuis eram quase os mesmos com ou sem ele, mas ele não seria ele sem o mar. Vivia do fruto desses azuis, de barcos carregados ou mesmo quase vazios de pescados ao longo de dias, meses, anos, gerações...

Lobo do mar, aprendiz da natureza. O mais belo e gratificante era vislumbrar o sol a nos atingir com essa energia, vital e rara. A dar tons dourados na areia, nas amendoeiras do caminho que levava a orla da praia. As carpas a pular deixando seu rastro. E as poucas gaivotas que ali ainda estão a cobiçá-las. Enquanto as outras partem pelo céu em bando, como naqueles quadros árcades e impressionistas brasileiros. Sob a luz dourada do sol que parte, mas sempre retorna em sua eterna promessa.

O sol, a atingir a nossa pele, a dessas crianças que suam diante das melhores partidas de futebol das sua vidas. Onde não existem horas, compromissos, que as façam sair dali. aqueles momentos únicos onde a amizade e a alegria enquanto cansados eles se jogam e deitam-se olhando em direção ao céu por entre o velho caminho de madeira do porto, alguns com os joelhos dobrados e os pés na água, cada um em sua direção. E conversam coisas banais, enquanto vêem as estrelas e a escuridão do céu começarem a surgir. Ontem eram meus amigos e companheiros de profissão, hoje são nossos filhos que vivem daqueles dias. Claro, as crianças hoje mudaram muito, mas velhos hábitos permanecem.

Pegar as suas coisas e retornar para casa, e ver novamente a sua sereia. Rodopiá-la pela sala, olhar naqueles olhos e fazê-la sentir-se amada e única como todos os dias nos quais seguraram sua mãos e trocaram um beijo caminhando pela praia, justamente num pôr-do-sol como aquele. Ficaram o dia todo separados, mas mesmo distantes permanecem unidos em pensamentos e alma. Nada poderia ser mais importante. A sereia não troca o seu painho, nem seu painho jamais a trocaria por qualquer manjubinha.

Ver toda a natureza que nos cerca como nosso berço, alimento, o nosso lugar. É a melhor sensação que posso sentir. E se algum dia, numa conversa banal, numa roda de bar meus amigos, ou meus filhos me perguntarem – Onde estará o paraíso? Afirmarei com toda a certeza – O paraíso é aqui.

(Deborah Caridade 30.10.08)

Bem Vindo =)

Aqui estão algumas poesias e textos de minha autoria. Fique à vontade para passear pelo blog, comentar nas postagens e visitar os links de outras páginas especialmente selecionados.

Amo escrever aqui e na correria de sempre, que é muita (como toda criatura urbana), volta e meia ele fica um pouco desatualizado. Mas busco atualizá-lo sempre que possível, não tenho uma frequência exata, mas em respeito a quem acompanha e visita, ao menos uma postagem por mês ou semana você encontra por aqui!

.*Obrigada a quem visita*.*.